Botox no couro cabeludo para tratamento capilar: usos e resultados

A aplicação do botox no couro cabeludo vem ganhando algumas novas indicações terapêuticas.

A toxina botulínica, ou simplesmente botox, ganhou notoriedade no mundo por sua capacidade de amenizar rugas e linhas de expressão. 

Contudo, suas ações não param por aí.

Ela também faz parte de tratamentos para enxaqueca, bruxismo, espasmos musculares, incontinência urinária e suor excessivo, dentre outros.

Além disso, também há testes com a toxina em algumas patologias do couro cabeludo. É o caso, por exemplo, da alopecia, hiperidrose e oleosidade.

Toxina botulínica

O botox é uma neurotoxina altamente potente produzida pela bactéria Clostridium botulinum.

Seu mecanismo de ação inclui o bloqueio do estímulo nervoso ao músculo impedindo, dessa forma, a contração muscular.

Para fazer isso, ela inibe os receptores de acetilcolina da fenda sináptica, ou seja, do espaço entre o neurônio e a fibra muscular.

Ao se ligar a esses receptores, a toxina impede a liberação da acetilcolina pelas terminações nervosas.

Por sua vez, sem acetilcolina, o neurônio não consegue ativar o músculo, não havendo, portanto, a contração.

Esse efeito é temporário, sendo progressivamente menor com o tempo.

Dessa forma, para manter o efeito paralisante, é preciso reaplicar o botox periodicamente.

Existem diversos sorotipos de toxina botulínica, sendo a tipo A a mais popular para tratamentos estéticos ou terapêuticos.

Usos do botox no couro cabeludo

A toxina botulínica vem expandindo suas fronteiras de atuação, sendo um recurso cada vez mais útil na medicina.

No couro cabeludo, as principais indicações para aplicação de toxina botulínica são para tratamento da hiperidrose, oleosidade e calvície.

Botox para suor excessivo na cabeça

O excesso de suor no couro cabeludo, ou hiperidrose craniofacial, pode ser uma condição desconfortável e embaraçosa. 

Afinal, a aparência de ter o cabelo sempre suado ou emplastrado passa a sensação de sujeira e desmanzelo.

Além disso, essa umidade constante do couro favorece dermatites e queda de cabelo.

Um outro agravante do quadro é justamente a dificuldade de tratar a área por conta da densidade dos fios.

Diferentemente de outras regiões como palmas, plantas e axilas, o couro é de difícil acesso para aplicação de tópicos.

Assim, o tratamento da hiperidrose cranial fica mais restrito a xampus, loções e medicamentos orais.

Estudos recentes, no entanto, sugerem que o botox no couro cabeludo pode ser uma solução para este incômodo. 

Em um trabalho de 2014, por exemplo, selecionou-se 38 pacientes com hiperidrose craniofacial para tratamento com toxina botulínica tipo B.

De acordo com a publicação, 87% dos participantes da pesquisa revelaram satisfação com o resultado e melhora da qualidade de vida.

Em outra pesquisa de 2019, dessa vez com mulheres pós-menopausa, a toxina tipo B também se mostrou eficaz e segura.

Toxina botulínica para seborreia e oleosidade excessiva 

Os óleos existentes no couro cabeludo e fios proporcionam uma série de benefícios à saúde capilar. Eles ajudam a manter a hidratação do cabelo e do couro, além de protegê-los da ação de agentes externos.

Entretanto, cabelos oleosos também causam incômodo estético.

Assim como o suor, o excesso de óleo deixa o cabelo com aspecto sujo e pesado.

Além disso, o excesso de oleosidade também pode agravar problemas como a dermatite seborreica e queda de cabelo.

Diante dessa queixa frequente, a indústria cria uma série de recursos para contornar a situação. Tanto que existe uma infinidade de produtos para cabelos oleosos no mercado.

Dentre eles, os xampus são os mais comuns. 

Contudo, em parte dos casos, nem mesmo o uso de xampus bem secativos consegue segurar a oleosidade.

Nesses casos, outras opções incluem medicações orais e, alternativamente, a toxina botulínica

Segundo estudos, testes mostram que a injeção de botox no couro cabeludo pode reduzir a produção de sebo.

O mecanismo pelo qual a toxina botulínica reduz a atividade das glândulas sebáceas ainda não está claro. Mas, se confirmado, o botox pode ajudar a prevenir a caspa e a queda de cabelo associada à oleosidade excessiva.

Botox no couro cabeludo para tratamento da alopecia

A alopecia androgenética é a principal causa de perda de cabelos em homens e mulheres.

A condição tem entre suas causas principais a predisposição genética e questões hormonais.

Além dessas, no entanto, acredita-se que existam outras variáveis capazes de afetar a sua evolução.

Admite-se, por exemplo, a participação do estresse oxidativo e da inflamação na progressão da calvície.

Mas parece que os fatores associados à perda de cabelos não param por aí. Outros mecanismos têm sido propostos, assim como novas formas de se tratar o problema. 

Uma dessas abordagens é usar a toxina botulínica.

Botox no couro cabeludo para calvície funciona? 

Alguns pesquisadores vêm fazendo testes com botox no couro cabeludo para alopecia.

Uma revisão sistemática de 2022 levantou dados de todos os artigos sobre o assunto existentes na literatura médica.

De todos os trabalhos, apenas 5 preencheram os critérios para análise, totalizando uma amostra de 165 homens com alopecia androgenética.

Nesses pacientes, a taxa de resposta ao tratamento com botox no couro cabeludo variou entre 75 e 79,1%.

Já a contagem de fios de cabelo aumentou entre 18 a 20,9%, sendo de 31,3% ao se associar a finasterida.

Os resultados dessa revisão sobre uso do botox no couro cabeludo sugerem uma possível ação da toxina na calvície.

No entanto, é preciso ter cautela.

As publicações ainda são escassas e com diversas falhas no desenho de pesquisa.

Uma delas, por exemplo, é a falta de estudos comparativos com medicamentos clássicos como finasterida oral e minoxidil tópico.

Por isso, ainda são necessárias mais publicações para confirmar esses dados.

Como o botox no couro cabeludo age na calvície?

Ainda não se conhece o mecanismo de ação exato do botox no couro cabeludo para tratamento da calvície. Entretanto, existem algumas teorias.

Uma delas seria a redução do TGFB1 (fator de crescimento transformador beta 1) , molécula cuja secreção sofre influência do DHT.

Acredita-se que o TGFB1 suprima o ciclo capilar e induza a formação de fibrose.

Ao reduzir a secreção dessa citocina, a toxina ajudaria a  retardar a progressão da calvície.

Outro mecanismo de ação do botox no couro cabeludo seria o relaxamento da musculatura ao seu redor.

Segundo essa teoria, a contração dos músculos no entorno do couro diminui a chegada de sangue para os folículos.

Dessa forma, ao relaxar essa musculatura, a toxina promoveria uma vasodilatação, ou seja, a abertura dos vasos sanguíneos. Isso possibilitaria a melhor nutrição e desenvolvimento dos folículos.

Além disso, o botox diminuiria a tensão da gálea aponeurótica, tecido fibroso que fica abaixo da pele do couro.

Modelos hipotéticos sugerem que esses tecidos sob tensão geram mais estresse oxidativo, bem como maior atividade do DHT e TGFB1.

Portanto, segundo essa teoria, ao promover o relaxamento dos tecidos, o botox poderia ser útil no tratamento da alopecia androgenética.

Duração do efeito com botox no couro cabeludo

Os efeitos da toxina botulínica geralmente começam a aparecer de 3 a 5 dias após a aplicação.

Já o pico de ação ocorre em torno de duas semanas. 

Após esse período, os efeitos se mantém por um período variável, com lenta perda de ação ao longo do tempo.

Em geral, os efeitos do botox no couro cabeludo duram de três a seis meses, com algumas variações.

Nos casos de hiperidrose, por exemplo, o efeito pode ser mais duradouro, de até 1 ano.

Dessa forma, a regularidade das aplicações varia de acordo com plano de tratamento e resposta individual.

Efeitos colaterais, riscos e complicações do botox

Médicos utilizam o botox desde a década de 70.

Trata-se de um procedimento seguro, com aprovação tanto do FDA quanto da Anvisa.

Os efeitos adversos são incomuns e, quando presentes, costumam ser temporários.

Entre os principais efeitos indesejados da toxina botulínica tem-se:

  • dor, inchaço e vermelhidão no local de aplicação;
  • estrabismo transitório;
  • ptose ou queda da pálpebra;
  • olho seco;
  • infecção;
  • dor de cabeça;
  • rash ou lesões cutâneas;
  • alergia.

Contraindicações da toxina botulínica

O botox é um tratamento seguro quando administrado por um profissional qualificado. 

Entretanto, existem algumas situações nas quais não se recomenda fazer o procedimento.

Assim, as contraindicações para uso do botox incluem:

  • gravidez;
  • lactação;
  • tendência a queloide;
  • alergia à toxina botulínica ou algum dos seus componentes;
  • doenças neuromusculares degenerativas como a esclerose lateral amiotrófica ou a esclerose múltipla.

Botox no couro cabeludo é bom?

Embora alguns estudos sugiram boas respostas com a toxina, isso não é um consenso.

O botox não é uma cura definitiva para a alopecia, oleosidade ou suor excessivo, mas uma ferramenta adicional.

Para todas essas condições, existem tratamentos mais bem estabelecidos e com resultados mais consistentes.

Porém, também é essencial considerar que cada pessoa tem um contexto e respostas terapêuticas particulares.

Assim, o tratamento mais eficaz para um indivíduo pode não ser o mesmo para outro. 

Portanto, sempre é aconselhável procurar orientação médica personalizada para sua condição e circunstâncias específicas.

A Clínica Doppio  possuir uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície. Além disso, contamos ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.

Faça uma avaliação e obtenha as informações e cuidados para o seu caso.

Dr. Nilton de Ávila Reis

CRM: 115852/SP | RQE 32621


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