Calvície e COVID: qual a relação entre calvície e cabelo?
Alguns estudos científicos têm proposto uma associação entre calvície e COVID.
Segundo esses estudos, homens e mulheres com alopecia androgenética teriam chances aumentadas de desenvolver quadros graves de COVID-19.
Calvície e Covid: qual a relação?
O mundo foi surpreendido em 2019 com o surgimento do SARS-Cov-2 e da patologia associada ao vírus, a COVID-19, doença com implicações mais amplas do que as inicialmente identificadas.
Conforme as pesquisas foram sendo realizadas, surgiram evidências de que a alopecia androgenética, conhecida popularmente como calvície, e a Covid-19 poderiam ter uma relação direta, influenciando quadros mais graves e maior mortalidade.
Segundo os estudos, o principal gene da calvície, o gene do receptor de andrógeno (AR), facilitaria a entrada do vírus em células pulmonares, onde ele causa os maiores problemas.
Para entrar nas células do pulmão, o coronavírus precisa primeiro se ligar a essas células, como no modelo chave-fechadura.
No caso do vírus, a chave seria a proteína S ou spike, uma espécie de espinho presente na cápsula do vírus.
Essa inclusive, é a parte do vírus usada para produção de vacinas como a da AstraZeneca (Oxford), Jansen (Johnson e Johnson) e a Sputnik.
Já nas células pulmonares, a fechadura dependeria de uma proteína chamada TMPRSS2 (transmembrane protease serine 2).
Aí que mora o problema. A formação dessa proteína TMPRSS2 depende da ativação pelo gene AR.
Dessa forma, teoricamente, quanto mais receptores de andrógeno, mais “fechaduras” os vírus teriam para se encaixar e entrar nas células.
O aumento do número de receptores AR é justamente um dos mecanismos da alopecia androgenética ou calvície.
Assim, de acordo com essa teoria, quanto mais calvo ou ralo for o cabelo da pessoa, maiores a chances dela evoluir mal caso tenha COVID.
Em contrapartida, ainda segundo esse raciocínio, pacientes em tratamento para calvície com medicamentos anti-andrógenos aumentariam suas chances de defesa contra a doença.
Gravidade da COVID e grau de alopecia
A partir da descoberta desse mecanismo de infecção pelo coronavírus, pesquisadores do mundo todo passaram a observar se havia correlação clínica entre calvície e COVID.
Nesse sentido, um estudo com 2 mil pessoas realizado na Universidade de West Virginia (EUA), por exemplo, identificou que homens calvos chegaram a ser 40% mais suscetíveis a quadros graves de Covid-19, variando de acordo com a grau da alopecia.
Uma outra pesquisa, desta vez realizada na Espanha, avaliou 175 indivíduos hospitalizados com COVID-19, sendo 122 homens e 53 mulheres.
No geral, 67% dos pacientes apresentaram alopecia androgenética, sendo que a condição foi identificada em 79% dos homens e 42% das mulheres.
Sinal de Gabrin
Baseados na associação entre alopecia androgenética e Covid, especialistas sugeriram uma escala de identificação visual de pacientes com maiores chances de vir a ter quadros graves da doença.
A idéia seria justamente acrescentar um sinal de alerta para ajudar os médicos a identificar pacientes que necessitam de atenção e cuidados precoces.
Assim surgiu o sinal de Gabrin.
O nome é uma homenagem ao Dr. Frank Gabrin, primeiro médico norte-americano falecido em decorrência da COVID-19, portador de alopecia androgenética e câncer de testículo bilateral.
O sinal de Gabrin, portanto, seria um ponto de associação, estabelecido através do exame dermatológico, entre o grau calvície e gravidade da COVID-19.
Tratamento da calvície e COVID
Se por um lado estudos sugerem a calvície como um fator de risco para uma má evolução da COVID, por outro, tratamentos da calvície também estão sendo avaliados como possíveis remédios contra a infecção.
Esse é o caso, por exemplo, da proxalutamida.
A proxalutamida é um medicamento capaz de inibir o receptor de andrógeno, sendo considerado, portanto, um anti-andrógeno.
Ela vem sendo testada para tratamento do câncer de próstata, mama e também para a COVID-19.
Um estudo publicado em 2021, feito com 236 voluntários brasileiros, mostrou resultados positivos.
No estudo, a proxalutamida acelerou significantemente a eliminação do vírus, além de reduzir o tempo de melhora de sintomas em pacientes com COVID-19 leve ou moderada.
Por esse raciocínio, pessoas em uso de outros anti-andrógenos como finasterida, dutasterida e espironolactona também teria algum grau maior de proteção.
Calvície e COVID: o que fazer?
Calma! Não precisa perder cabelos com os dados revelados.
Ainda não há consenso sobre diversos pontos da relação entre calvície e COVID.
Todos os possíveis mecanismos de ação tanto da doença quanto dos remédios precisam ser validados por estudos maiores e agências de saúde.
Grandes centros de pesquisa mundiais estão empenhados em obter a maior quantidade possível de informações sobre essa doença.
Ao contrário da COVID-19, a calvície já é mais bem compreendida, prevenida e tratada.
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Dr. Nilton de Ávila Reis
CRM: 115852/SP | RQE 32621