Como os exercícios físicos podem afetar os cabelos?

A relação entre calvície e exercício físico pode ter diferentes interpretações dependendo de por qual perspectiva ela é analisada.

Exercício fisico e queda de cabelo

Se os olhos são o reflexo da alma, os cabelos podem ser considerados como reflexo da saúde do organismo.

Dificilmente é possível ter cabelos vistosos e saudáveis quando o corpo não está bem.

Tanto é que um dos primeiros e mais comuns sinais associados a doenças sistêmicas graves é a queda de cabelos.

Por mais estranho que possa parecer, um dos fatores que também podem comprometer os cabelos é o exercício físico.

Isso porque assim como doenças podem sobrecarregar o organismo, o excesso de exercícios também pode exigir mais dele.

Para os cabelos, esse desgaste provocado pelos exercícios pode ser crucial.

O que acontece, em resumo, é que o corpo tende a proteger funções mais vitais quando exposto a agressões.

Dessa forma, ele mantém o essencial funcionando, comprometendo primeiro estruturas mais periféricas como os cabelos.

Um exemplo disso é a queda de cabelos provocada pela prática excessiva de exercícios físicos.

Essa queda, chamada eflúvio telógeno, costuma ser temporária, mas pode se estender por períodos mais longos, dependendo da persistência dos fatores causais.

Além de causar transtorno ao ver os cabelos caindo, a queda também pode acelerar a percepção da perda de cabelos em pessoas com alopecia.

Desse modo, alguns pacientes começam a notar o aparecimento de falhas na coroa, entradas ou em outras partes no topo da cabeça.

Alopecia androgenética

A alopecia androgenética é a forma mais comum de calvície em homens e mulheres.

Entre as principais causas dessa alopecia estão, por exemplo, fatores genéticos, hormonais e ambientais.

Além disso, situações que podem gerar estresse ao organismo também parecem contribuir na sua evolução.

Como o exercício físico pode influenciar na queda de cabelo e alopecia?

Diversos aspectos direta ou indiretamente associados ao esforço físico podem contribuir para o comprometimento dos cabelos.

Estresse

A prática regular de exercícios físicos é uma das recomendações médicas mais frequentes para combater o estresse.

De fato, a atividade física é capaz de reduzir o estresse de diferentes formas, sejam elas físicas ou emocionais.

Entretanto, dependendo da intensidade e do preparo individual de cada pessoa, o exercício físico também pode induzir o estresse.

Por sua vez, esse estresse leva à formação de radicais livres responsáveis por danificar estruturas celulares de diversos sistemas.

Nos cabelos, os danos provocados pelos radicais livres podem, por exemplo, contribuir para o embranquecimento dos fios, queda de cabelo e progressão da calvície.

Dieta

Se por um lado, exercícios físicos regulares aumentam a circulação e nutrição dos cabelos, por outro, o excesso de atividade física aumenta o metabolismo e o consumo dos músculos.

Assim, a dieta também deve ser capaz de se adaptar e suprir essa maior demanda por nutrientes.

Entretanto, não é o que frequentemente se observa.

Como pessoas com alta carga de exercícios também costumam se preocupar em manter a forma e melhorar a definição dos músculos, a maior demanda nutricional nem sempre é levada em conta.

Dietas restritivas, muitas vezes acompanhadas de longos períodos de jejuns costumam ser a regra.

Além disso, o frequente uso de produtos ou fórmulas de suplementação acabam por criar um estado de desequilíbrio nutricional.

Sobre esse ponto, é importante lembrar que tanto as deficiências quanto o excesso de algumas vitaminas e minerais podem provocar queda de cabelos, sendo, portanto, um dos elos entre os exercícios físicos e o comprometimento capilar.

Hormônios

Outro fator que pode interferir na relação entre calvície e exercício físico é a questão hormonal.

Além do estresse, o exercício físico intenso também pode interferir nos níveis de testosterona.

Em pessoas com predisposição genética para alopecia, o aumento da testosterona pode, por sua vez, pode acelerar a progressão da perda capilar.

Isso porque a testosterona, através de seu metabólito diidrotestosterona (DHT), está diretamente associada à perda de cabelos.

Assim, teoricamente, quanto mais se elevam os valores de testosterona, maior a tendência de progressão da calvície em pessoas predispostas.

Exercícios físicos e testosterona: estudos científicos

Segundo dados da literatura médica, alguns tipos de exercícios físicos poderiam estar associados ao aumento do nível da testosterona, mesmo que transitoriamente.

É o caso, por exemplo, de um pequeno estudo 12 voluntários publicado em 2018.

No estudo, os participantes foram submetidos a séries programadas com diferentes intensidades de exercícios.

Os exercícios de hipertrofia mostraram aumentar o nível de testosterona pós-treino mais do que exercícios de resistência.

O aumento da testosterona após atividade física também foi observado em um outro pequeno estudo com 10 praticantes de crossfit.

Nesse estudo, os pacientes foram submetidos ao chamado HIFT (High-intensity Functional Training) por 5 semanas.

Durante a pesquisa, as mudanças nas dosagens de testosterona e cortisol, hormônio do estresse, pareceram ser moduladas pela duração e excesso de carga do exercício.

O aumento da testosterona também foi observado em um estudo com atletas master em 2017.

No estudo, 17 participantes do sexo masculino, com média de idade de 60 anos, foram submetidos a um programa de treinamento HIIT (High-intensity Interval Training) por 6 semanas.

Nesse estudo, houve pequeno aumento da testosterona.

Resultado semelhante foi observado pelo mesmo grupo de pesquisadores em outro estudo com 22 homens sedentários, com média de 62 anos de idade.

Apesar de haver estudos sugerindo o aumento temporário da testosterona com exercícios envolvendo altas cargas e curtos intervalos de descanso, o mesmo não se pode dizer dos exercícios aeróbios de resistência.

Uma revisão de literatura com meta-análise de 1259 artigos médicos publicada em 2019 constatou que exercícios de resistência não alteram significativamente a testosterona em idosos.

Calvície e exercício fisico: o que dizem os estudos científicos?

Na teoria, como foi exposto, há diversos fatores associados aos exercícios físicos que poderiam influenciar na evolução da alopecia.

Apesar disso, a relação entre calvície e exercício físico ainda não está clara do ponto de vista científico.

Isso porque há poucos estudos que abordam essa relação de forma direta.

Um desses estudos foi publicado por coreanos em 2017.

A pesquisa contou com 1182 voluntários, sendo 600 homens e 582 mulheres.

Dentre os participantes, 350 homens e 184 mulheres tinham diagnóstico de alopecia.

Esses participantes foram questionados sobre atividades físicas e divididos de acordo com a intensidade do exercício, sendo ela:

  • Alta: mais do que 20 minutos por dia de exercício físico extenuante que levando ao severo encurtamento da respiração;
  • Média: atividade física que induz moderado encurtamento da respiração por pelo menos 30 minutos por dia;
  • Baixa: atividades leves, como por exemplo caminhar, pelo menos 30 minutos por dia.

De acordo com o resultado da pesquisa, pacientes com alopecia se exercitam mais do que o restante da população, especialmente com atividades de baixa intensidade.

Entretanto, mesmo se exercitando mais, não foi detectada associação entre a severidade da calvície e exercício físico.

Segundo essa pesquisa, o exercício físico não influenciaria na evolução da alopecia.

Calvície e exercício físico: considerações finais

A adoção de hábitos saudáveis é sempre lembrada como importante para a saúde dos cabelos e do organismo em geral.

Dentre as práticas mais associadas ao bem estar e saúde está a atividade física.

De fato, a prática regular de exercícios físicos traz uma série de benefícios .

Mas, se por um lado, atividades físicas adequadas e regulares fazem bem, o excesso de exercício físico também pode ser prejudicial.

Isso porque apesar da relação entre calvície e exercício físico não estar claramente comprovada do ponto de vista científico, há evidências de que uma série de fatores correlacionados possam ser alterados pela atividade física exagerada.

Assim, fica a dica: pratique atividade física e cuide de sua saúde com consciência!

Para saber o que mais pode ser feito para tornar seus cabelos mais saudáveis, procure um médico especialista.

A Clínica Doppio, além de possuir uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície, conta ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.

Faça uma avaliação e obtenha as informações e cuidados para o seu caso.

Dr. Nilton de Ávila Reis

CRM: 115852/SP | RQE 32621

Médico formado pela UNICAMP e dermatologista pela USP, com mais de 10 anos de experiência no tratamento de problemas capilares e do couro cabeludo. Integra o corpo clínico do Hospital Albert Einstein e Sírio-Libanês.


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2 Responses

  1. Doutor, faço controle da minha calvície há cerca de 7 anos, sendo os 2 primeiros anos com finasterida e o restante com dutasterida 0,5mg/dia. Anualmente realizo exames para avaliar o nível do DHT. Ministrando dutasterida, esse nível sempre ficou bastante baixo. No laboratório em que costumo realizar esse exame, os valores para o DHT são: Homens (20-89 anos): 143 a 842 pg/ml. O meu penúltimo resultado deu 51 pg/ml, o que muito me agradou. Recentemente resolvi fazer exercícios físicos em casa por aproximadamente 2 meses. Cheguei a tomar creatina no 1° mês, mas resolvi suspender o uso porque li relatos sobre a elevação do DHT ao fazer uso desse suplemento. Também consumi durante os 2 meses albumina. Prosseguindo com os exercícios no 2° mês, já no final dele, cerca de 3 semanas após a última suplementação de creatina, tive a impressão de sentir queda capilar, além disso, também surgiram muitas espinhas. Assim, resolvi realizar mais um exame de DHT e tomei um susto. O resultado foi 588 pg/ml, mesmo ministrando dutasterida diariamente e com a creatina suspensa há 3 semanas. Suspendi os exercícios físicos imediatamente. Minha pergunta é: exercícios físicos aumentam significativamente a testosterona a ponto de elevar os níveis de DHT, mesmo ministrando um inibidor da 5-alfa-redutase poderoso como a dutasterida? Obrigado pela atenção.

    1. Olá, Victor

      Os exercícios físicos que promovem aumento da massa muscular também podem aumentar a testosterona e, por conseguinte, o DHT.
      Mas variações nos valores do DHT não necessariamente exibem proporcionalidade com o grau de evolução da calvície.
      Portanto, não deixe de fazer exercícios por conta disso, afinal de contas, fazer exercícios é bom para a saúde e para o cabelo.

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