Colágeno é bom para queda de cabelo ou prevenir fios brancos?

Nos últimos anos, houve um forte aumento no interesse pela suplementação oral de colágeno para cabelo, pele e unhas.

Conforme ganha notoriedade, os médicos se tornam mais propensos a atender pacientes que tomam ou perguntam sobre o produto.

Entretanto, embora seja popular entre dermatologistas e pacientes, quando o assunto é ciência, não há essa unanimidade toda.

O que é colágeno?

O colágeno é uma proteína estrutural, ou seja, ele faz parte da composição da pele, unhas e cabelo. Além desses, ainda se encontra ele nos vasos sanguíneos, parede intestinal, ligamentos, tendões, cartilagens, ossos, músculos e outros órgãos.

Aliás, segundo estudos, o colágeno é a proteína mais abundante do corpo, representando 25 a 30% do total proteico.

A fibra de colágeno é como uma corda, composta por várias fibrilas entrelaçadas. Por sua vez, cada uma dessas fibrilas contém 3 hélices ou fitas que se trançam. A composição dessas cadeias é variável, dando origem aos seus diferentes tipos.

Ao todo, existem pelo menos 28 tipos de colágeno, sendo os de I a V os mais comuns. Só o colágeno tipo I já corresponde a 90% do total.

Independente do tipo, entretanto, em geral, os aminoácidos mais frequentes na sua molécula são a prolina, glicina e a hidroxiprolina.

Para que serve o colágeno?

A palavra colágeno vem do grego “kola” e “gen” cujo significado seria produção de algo que gruda.

Essa definição já sinaliza sobre a função dessa molécula, abundante na matriz extracelular, ou seja, no espaço entre as células.

Fazendo uma analogia com uma casa, as células que formam os tecidos seriam os tijolos e o colágeno, as ferragens e o cimento.

Claro que essa é uma explicação bem simplificada, mas já dá uma boa noção sobre o assunto.

O colágeno é um importante componente do tecido conectivo, desempenhando um papel crucial na manutenção da resistência, sustentação e força. Ele ainda ajuda na migração, adesão, metabolismo e crescimento das células.

Quais são os benefícios de suplementar colágeno para cabelo?

O colágeno é uma proteína e, portanto, ele é uma fonte de aminoácidos.

Assim, ele pode ser um fornecedor de matéria-prima para se formar a queratina, principal componente do cabelo.

Além disso, artigos científicos apontam outros possíveis efeitos do colágeno para cabelo como:

  • combate a radicais livres,
  • retardo do envelhecimento capilar;
  • redução de cabelos brancos;
  • participação na produção do colágeno na pele.

Outro ponto sempre presente em discussões sobre ações do colágeno para cabelo seria o sistema de ancoragem do fio.

Segundo essa teoria, a ingestão de colágeno ajudaria a reforçar a fixação do folículo ao couro, diminuindo sua queda.

Em sites, blogs e materiais publicitários para médicos, ainda se descreve diversos outros benefícios na aparência e textura do fio. Aumento da resistência, brilho, força e claro, do crescimento do cabelo, por exemplo, são algumas das promessas mais frequentes.

Como obter colágeno para cabelo?

Na alimentação, o colágeno está presente em carnes frescas e peixes.

Já os suplementos podem vir de fontes naturais, sejam elas animais ou vegetais, e da produção em laboratório. Essa consiste em sistemas de proteínas recombinantes usando bactérias, leveduras, insetos, plantas, células de mamíferos ou fibrilas artificiais.

As fontes animais mais comuns de colágeno são humanos, bovinos, suínos e animais marinhos como peixes.

O tipo I, II e III são os mais comuns em suplementos de colágeno para cabelo, pele e unhas. Dois deles, Peptan e Verisol, merecem destaque porque apresentam maior grau de evidência em estudos sobre envelhecimento cutâneo.

O Peptan é um colágeno do tipo I e o Verisol é do tipo III.

A molécula geralmente vem disponível como peptídeos ou hidrolisada, ou seja, quebrada em pedacinhos para melhor absorção.

Os suplementos, em cápsulas, comprimidos, pós ou gomas, podem conter outros nutrientes como vitamina C, zinco e biotina, por exemplo.

A vitamina C e o zinco, inclusive, são necessários para produção da molécula, assim como o manganês e o cobre.

Colágeno para cabelo funciona?

Embora haja muitas promessas e especulações sobre nutracêuticos na mídia, na literatura há certa limitação de pesquisas sobre o tema.

Dos raros trabalhos científicos existentes, a maioria é experimental, com testes em laboratório utilizando modelos animais ou materiais biológicos.

Quase não há estudos clínicos, ou seja, a partir da respostas do tratamento em humanos.

Além disso, quando existentes, as amostras são pouco representativas e quase sempre com financiamento da indústria farmacêutica.

Desse modo, seus resultados perdem força  e credibilidade do ponto de vista científico.

De qualquer forma, vale a pena saber o que eles sugerem sobre efeitos e resultados do colágeno para cabelo.

Um artigo de 2022, por exemplo, sugere que peptídos de colágeno de peixes poderiam prevenir a queda de cabelo. Além, disso, segundo os autores, eles também seriam capazes de estimular o crescimento capilar.

Outro trabalho sobre o assunto aponta um possível papel do colágeno VI no ciclo capilar.

Ainda nesse sentido, também há trabalhos relacionando a falta de colágeno XVII à queda e aparecimento de cabelo branco.

Todos esses mecanismos e resultados antes e depois, no entanto, são ainda pouco significativos.

Pelo menos essa a conclusão de uma revisão sistemática de 2021, que analisou todos os trabalhos existentes à época.

Segundo os autores, as evidências são insuficientes, sendo improvável haver ganho ou recuperação da densidade capilar tomando colágeno para cabelo.

O estudo ainda destaca um possível viés na avaliação e grau de satisfação dos voluntários devido à imagem midiática do produto.

Riscos e efeitos colaterais

A suplementação com colágeno para cabelo oferece riscos mínimos à saúde, geralmente apresentando boa tolerância.

A princípio, sua única restrição de consumo é para quem tem alergia pelo produto de origem animal.
Outros pontos de alerta seriam a qualidade dos suplementos, aditivos e risco teórico de contaminação pelo vírus da vaca louca.

É bom tomar colágeno para cabelo?

O corpo gradualmente produz menos colágeno conforme envelhece.

Além do tempo, ele cai ainda mais rápido pela exposição solar, cigarro, excesso de álcool, privação do sono e sedentarismo.

Se as pessoas têm curiosidade de testar o colágeno para cabelo, a chance de fazer mal é baixa. O famoso “mal não faz”.

Nesse contexto, a ideia de tomar algo seguro, capaz de reverter sinais de envelhecimento e fazer crescer cabelo é atrativa. Por isso, ele se tornou um dos suplementos líderes de venda no mercado da beleza e tricologia.

Entretanto, é difícil comprovar as possíveis vantagens de se suplementar colágeno para cabelo.

Muitos desses benefícios são vagos e dificilmente podem ter avaliações objetivas em estudos, como, por exemplo, “cabelo com brilho”.

Também é preciso se considerar o potencial efeito placebo no julgamento dos participantes das pesquisas.

Quando se paga caro por um produto muito comentado, a tendência é se supervalorizar seus resultados para justificar o gasto.

Mas, considerando-se o alto custo e baixo grau de embasamento científico, não se deve recomendar de rotina colágeno para cabelo.

Embora existam alguns poucos estudos sugerindo ações do colágeno para cabelo, seu embasamento ainda é muito fraco.

Assim, os profissionais da saúde deveriam ficar atentos às excessivas e ilusórias promessas sobre ações do colágeno para cabelo.

Cabe aos médicos trazer informações embasadas e orientações para combater a desinformação e propaganda exagerada.

Se você quer saber se vale a pena tomar esse ou outro suplemento para interromper a queda, faça-nos uma visita!

A Clínica Doppio  possui uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície. Além disso, contamos ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.

Faça uma avaliação e obtenha as informações e cuidados para o seu caso.

Dr. Nilton de Ávila Reis

CRM: 115852/SP | RQE 32621


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