Crioterapia capilar: definição, indicações, efeitos e resultados

A crioterapia capilar tem várias aplicações médicas, com extensão até para a área de cuidados com a estética dos fios.

Conforme surgem novos aparelhos com outras possíveis aplicações, também cresce o interesse do público em saber mais sobre o assunto.

Entretanto, embora seu uso seja amplo, os efeitos e resultados são bem variáveis.

Dessa forma, é preciso se considerar diversos aspectos antes de se optar por esse tipo de tratamento.

O que é crioterapia capilar?

A crioterapia capilar consiste no emprego do frio para tratar diversos problemas da saúde dos cabelos e couro cabeludo.

O termo engloba uma série de modalidades terapêuticas, com diferentes aparelhos e temperaturas de resfriamento.

Dentre os métodos da crioterapia capilar estão, por exemplo:

  • criocirurgia;
  • neve carbônica;
  • nitrogênio líquido;
  • touca gelada;
  • escova gelada;
  • chapinha gelada.
  • Criopeeling

Criocirurgia

A criocirurgia é uma das formas de crioterapia.

A diferença entre elas está no grau de lesão tecidual. Na cirurgia, o frio causa morte das células, enquanto na crioterapia somente inflamação.

Portanto, a criocirurgia é uma modalidade da crioterapia capaz de destruir tecidos e remover lesões de pele.

Uma variante da criocirurgia é o criopeeling, forma mais extensa e superficial de aplicação.

Os dois principais agentes para se realizar a criocirurgia são a neve carbônica e o nitrogênio líquido.

Neve carbônica

A neve carbônica, gelo seco ou gás carbônico tem cada vez menos uso na prática clínica.

Em partes, isso se deve às dificuldades de armazenamento, manuseio e sua baixa capacidade de resfriamento.

O gás carbônico (dióxido de carbono) usado na crioterapia capilar é estocado na forma líquida em cilindros sob pressão. Ao evaporar, esse líquido forma bastões de diversos tamanhos, prontos para uso.

Após retirar o bastão com gelo seco do recipiente, aplica-se ele sobre o local de interesse, pressionando-o.

A pressão e o tempo de contato com a pele determinam seu grau de lesão e efeito terapêutico.

Como a temperatura de resfriamento da neve carbônica é -79°C,  sua ação é mais limitada quando comparada ao nitrogênio líquido.

Nitrogênio líquido

O nitrogênio líquido é um dos principais agentes da crioterapia capilar.

Dentre seus benefícios estão a maior facilidade de estocagem, mais opções de aplicadores e, especialmente, seu poder de resfriar.

O armazenamento do nitrogênio líquido pode se dar em dispositivos de diversos tamanhos, como botijão, tanque ou garrafas térmicas especiais.

Já a aplicação pode ser com cotonete, jato, spray ou sonda, dependendo da indicação.

Graças a essa maior flexibilidade, o nitrogênio líquido acaba conseguindo atender melhor as diferentes demandas de uso.

Além disso, outro ponto a favor do nitrogênio é sua capacidade de resfriamento.

O nitrogênio líquido atinge a temperatura de -196ºC, sendo, portanto, bem mais potente do que a neve carbônica.

Touca gelada

Por se valer do frio para fins terapêuticos, a touca inglesa também faz parte do arsenal da crioterapia capilar.

A touca gelada ou cold cap é um sistema de resfriamento do couro cabeludo para pacientes em quimioterapia.

O dispositivo foi desenvolvido na Inglaterra pela família Paxman, mesmos inventores do sistema de refrigeração do chopp e cerveja.

Aliás, a touca gelada da Paxman é a marca mais famosa e referência de scalp cooling.

Escova e chapinha gelada

Uma outra forma de se pensar em crioterapia capilar é considerar os cuidados quanto à estética dos fios.

Nesse sentido, duas adaptações de utensílios clássicos chamam a atenção: a escova e a chapinha gelada.

Ao invés de aquecer, esses aparelhos possuem placas ou partes capazes de atingir temperaturas próximas ao zero ou até negativas.

Por isso, antes de utilizá-las, é preciso mantê-las um tempo no freezer ou congelador.

Para que serve a crioterapia capilar?

A crioterapia capilar abrange um conjunto de modalidades terapêuticas que utilizam múltiplos agentes e aparelhos para realizar funções diversas.

As principais indicações da crioterapia capilar são:

  • tratamento da alopecia areata;
  • destruição de tumores, queloide e outras lesões cutâneas;
  • prevenção da queda de cabelo por quimioterapia;
  • hidratação do fio de cabelo.

Alopecia areata

A alopecia areata é uma doença autoimune não-cicatricial na qual o corpo passa a não reconhecer as próprias estruturas foliculares.

Assim, ele ataca e derruba fios de cabelo e pelos de áreas como barba, cílios e sobrancelhas, dentre outros.

A queda de cabelo da alopecia areata costuma ser abrupta e intensa, dando origem a falhas redondas lisas na cabeça.

Existem diversas formas de tratar a doença, sendo uma delas a crioterapia capilar com nitrogênio líquido ou neve carbônica.

Apesar de útil em alguns casos, a crioterapia capilar não é a primeira escolha de tratamento da alopecia areata.

Seu uso é mais restrito a situações nas quais os outros métodos não se mostraram eficazes ou quando há restrições. É o caso, por exemplo, do público infantil.

A crioterapia capilar com nitrogênio líquido pode ser uma alternativa para crianças com formas resistentes ou refratárias de alopecia areata.

Tumores e outras lesões de pele

A crioterapia capilar, na modalidade criocirurgia, também pode ser útil para remoção de lesões dermatológicas no couro cabelo tais como:

  • verruga;
  • queratose actínica;
  • mancha do Sol ou melanose solar;
  • queloide;
  • tumores cutâneos benignos;
  • carcinoma basocelular superficial;
  • carcinoma espinocelular in situ ou não invasivo.

Embora seja uma opção para tratar essas lesões, nem sempre a crioterapia capilar é o método padrão-ouro.

Isso porque para todas elas existem outras modalidades terapêuticas mais eficientes ou com menos sequelas.

Além disso, não se recomenda usar a crioterapia capilar para tratar tumores agressivos. Esse é o caso, por exemplo do melanoma, carcinoma basocelular esclerosante ou espinocelular invasivo.

Queda de cabelo por quimioterapia

O uso touca gelada durante sessões de quimioterapia tem a finalidade de combater a queda de cabelo secundária ao tratamento.

Embora útil, no entanto, nem sempre ela é uma boa opção.

Aliás, algumas contraindicações da touca gelada incluem:

  • câncer no sangue, como leucemia ou linfoma;
  • tumor cerebral ou de outras partes do sistema nervoso central;
  • metástases cranianas;
  • doenças agravadas ou desencadeadas pelo frio;
  • programação de transplante de medula óssea ou radioterapia no couro cabeludo.

Cuidados com hidratação do fio de cabelo

Quando se pensa em chapinha ou escova, logo se associa a imagem de cabelos lisos.

Realmente esses são dois dos utensílios mais comuns para se modelar o cabelo.

Entretanto, esse conceito vem mudando.

A escova e a chapinha gelada em quase nada se relacionam com suas versões originais.

Primeiro porque ao contrário das anteriores, elas agem pelo frio.

Além disso, a escova e chapinha gelada não alisam, mas prometem trazer outros benefícios aos fios, dentre eles:

  • melhora do condicionamento;
  • redução do frizz;
  • maior definição de mechas e cachos;
  • aumento do brilho;
  • maciez;
  • hidratação dos fios.

Crioterapia capilar: contraindicações

Além das restrições próprias da touca gelada, existem ainda contraindicações gerais ao uso da crioterapia capilar, dentre elas:

  • crioglobulinemia;
  • mieloma múltiplo;
  • fenômeno de Raynaud;
  • urticária ao frio;
  • má-circulação local.

Como age a crioterapia  capilar?

Cada aparelho ou agente da crioterapia capilar funciona de forma diferente.

Mesmo se considerando uma única modalidade terapêutica, o mecanismo de ação também pode variar dependendo da condição a ser tratada.

O nitrogênio líquido, por exemplo, age de forma diferente na criocirurgia do que age na alopecia areata.

Saiba mais detalhes a seguir.

Neve carbônica e nitrogênio líquido

O gelo seco e o nitrogênio líquido capilar agem de forma semelhante.

Quando a aplicação é rápida e superficial, o mecanismo de ação deles é através da indução da resposta inflamatória.

Esse é o princípio do emprego para o uso da crioterapia capilar com nitrogênio líquido para alopecia areata.

Nesse caso, a ideia é modificar a imunidade local através desse estímulo inflamatório.

Dessa forma, o organismo passaria a não atacar mais o cabelo, evitando a queda. A proposta desse mecanismo é semelhante a da imunoterapia.

Já nos casos de queloide, câncer ou verruga, o intuito de se utilizar o frio é destruir os tecidos anômalos.

A morte tecidual na criocirurgia ocorre por 2 mecanismos.

Um deles é a falta de suprimento sanguíneo por trombose e destruição dos vasos que irrigam o tecido.

O segundo é  a formação de cristais de gelo e rompimento das membranas celulares.

Touca gelada

A queda de cabelo na quimioterapia ocorre devido à ação das drogas no bulbo capilar.

Esses medicamentos combatem o câncer por identificar e destruir células com alto grau de proliferação.

Entretanto, os efeito antiproliferativo dos quimioterápicos não se restringe somente às células tumorais. Ele acaba afetando outros tecidos com altas taxas de multiplicação como, por exemplo, o cabelo.

As drogas anticancerígenas interrompem o ciclo capilar em seu período de crescimento máximo, ou seja, a fase anágena.

O fenômeno, conhecido como eflúvio anágeno, é o principal mecanismo de queda de cabelo por quimioterapia.

Por sua vez, a touca gelada age na prevenção da queda por 2 mecanismos.

O primeiro deles é por reduzir o acesso da droga ao folículo capilar.

O frio estreita os vasos sanguíneos. Prova disso é que as mãos ficam pálidas no inverno.

Assim, ao resfriar a cabeça, a touca gelada reduz a circulação, distribuição e fornecimento das drogas aos folículos pilosos.

Além disso, a baixa temperatura diminui a atividade das células foliculares, reduzindo seu metabolismo.

Ao diminuir sua taxa metabólica, o folícuulo também capta menos droga, sofrendo menos com seus efeitos.

Portanto, a touca gelada reduz a queda de cabelo por diminuir a oferta e captação dos quimioterápicos ao folículo piloso.

Modeladores a frio: escova e chapinha gelada

Não se sabe ao certo como e até mesmo se a escova e a chapinha gelada entregam aquilo que prometem. Mas, de acordo com o material publicitário desses aparelhos, o modo de ação deles seria semelhante.

Teoricamente, o resfriamento do fio com a escova ou a chapinha gelada fecharia as escamas capilares, selando a cutícula.

Por sua vez, a selagem do fio contribuiria para uma menor perda hídrica por evaporação, garantindo maior hidratação e definição.

Crioterapia capilar funciona?

De maneira geral, embora tenha limitações, a crioterapia capilar apresenta bons resultados.

De acordo com estudos científicos, por exemplo, a taxa de cura da criocurgia para tumores menos agressivos pode atingir 98-99%.

Já o uso da crioterapia capilar com nitrogênio líquido para alopecia areata tem respostas variáveis.

Em alguns estudos, áreas tratadas com crioterapia superficial apresentaram 1,6 vezes mais crescimento capilar em relação às lesões sem tratamento.

Nesse estudo em questão, 15 dos 19 participantes obtiveram benefícios da crioterapia capilar.

Em uma outra pesquisa anterior também houve melhora das lesões de alopecia areata, mas desta vez em 97,2% dos pacientes.

Apesar disso, nem sempre a resposta ao tratamento é tão positiva.

Pelo contrário, na prática clínica, na maior parte dos casos a crioterapia capilar para alopecia areata não funciona tanto assim.

Já se tratando da touca gelada, os resultados são mais consistentes.

De acordo com estudos, a redução da queda de cabelo por quimioterapia com a crioterapia capilar chega a 30 a 80%.

Assim como na alopecia areata, no entanto, também há variações pessoais, porém, nesse caso, menos marcantes.

Já a avaliação de resposta da escova e chapinha gelada é um pouco mais complexa.

Isso porque a comunidade científica se dedica mais ao estudo de patologias, havendo pouco interesse na área de estética capilar.

Portanto, a avaliação dos resultados do uso desses aparelhos dependem mais de comentários de blogs e opiniões pessoais.

Mas, infelizmente, há muito conflito de interesse nesses relatos, dificultando a análise de desempenho desses dispositivos.

Crioterapia capilar: riscos e complicações

É preciso diferenciar reações normais da crioterapia capilar das verdadeiras complicações do procedimento.

Dentre as respostas habituais ao tratamento de congelamento temos ainda algumas transitórias e outras possivelmente definitivas.

As principais reações transitórias da crioterapia capilar com nitrogênio líquido são: dor, vermelhidão, inchaço, anestesia e formação de bolhas.  Além disso, pode haver hiperplasia pseudoepiteliomatosa, um aumento temporário do tecido no local da aplicação.

Já as alterações possivelmente definitivas do procedimento incluem cicatrizes deprimidas, alopecia e despigmentação da pele, ou seja, manchas brancas residuais.

Por sua vez, como complicações da crioterapia capilar com nitrogênio líquido tem-se:

  • hemorragia;
  • infecção;
  • danos neurais permanentes;
  • úlceras com necrose da pele e subcutâneo.

Com relação à touca gelada, as queixas mais frequentes são: dor, coceira, tontura, desconforto e cefaleia, todas manifestações passageiras.

Há também raros relatos de queimaduras leves, porém sem cicatriz ou perda de cabelo.

Respeitando-se suas contraindicações e seguindo as orientações de uso corretamente, dificilmente se observam sequelas graves com a touca inglesa.

Em relação à prancha e à escova gelada,  também não há grandes riscos, desde que se tomem os cuidados necessários.

Entretanto, pode haver queimaduras leves dependendo do tempo de contato das placas geladas com o couro.

A crioterapia capilar vale a pena?

Assim como outros métodos terapêuticos, há vantagens e desvantagens de se optar pela crioterapia capilar.

Em algumas condições, ela pode ser o método de escolha, como no caso da touca gelada.

Isso porque o o scalp cooling é um dos poucos recursos disponíveis para diminuir a queda capilar por quimioterapia.

Então, nesse caso, vale a pena tentar usar a touca inglesa.

Já o uso nitrogênio líquido para alopecia areata ou remoção de lesões cutâneas deve ser analisado com cuidado.

Dependendo da indicação, algumas vantagens como preço, segurança e a praticidade da técnica podem fazer o procedimento valer a pena. É o caso, por exemplo, do tratamento com nitrogênio líquido para crianças com alopecia areata refratária ou adultos com queratoses actínicas.

Já para adultos com alopecia areata ou tumores cutâneos, a recomendação é considerar a crioterapia capilar somente quando outros tratamentos forem inviáveis.

Mas a decisão nem sempre é fácil.

Por isso, é importante consultar a opinião de um médico especialista sobre o assunto.

Cabe ao médico colocar na balança os prós e contras da crioterapia capilar antes de indicar o tratamento.

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Então faça-nos uma visita!

A Clínica Doppio  possuir uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície. Além disso, contamos ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.

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Dr. Nilton de Ávila Reis

CRM: 115852/SP | RQE 32621

Médico formado pela UNICAMP e dermatologista pela USP, com mais de 10 anos de experiência no tratamento de problemas capilares e do couro cabeludo. Integra o corpo clínico do Hospital Albert Einstein e Sírio-Libanês.


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