Quando mexer na cabeça pode ser um problema

A escoriação neurótica do couro cabeludo é uma condição psiquiátrica associada à área capilar.

Assim como ocorre na tricotilomania e na dermatite artefacta, a abordagem desses pacientes deve ser multidisciplinar.

O que é a escoriação neurótica?

Existem diversos sinônimos para a escoriação neurótica.
Dentre eles, por exemplo, estão o transtorno de escoriação, escoriação patológica, dermatotilexomania, acne escoriada ou escoriação psicogênica.
Em todas essas condições há um comportamento compulsivo no qual o paciente repetidamente arranha, cutuca, corta, belisca, escava ou realiza punção na pele.
Portanto, nesses quadros, as lesões de cutâneas são auto-infligidas.
Embora cientes das consequências, os pacientes não têm controle sobre tais impulsos, não conseguindo evitá-los.
Além disso, pessoas com escoriação neurótica do couro cabeludo costumam sentir prazer e alívio pelo comportamento, seguido de arrependimento e culpa.
Em muitos casos, a autolesão é uma resposta à dificuldade de lidar com os próprios sentimentos e emoções.
Aliás, o quadro é mais comum em pessoas com noções irrealistas de produtividade, perfeccionistas ou com dificuldade de planejar e gerenciar tarefas.

Como é feito o diagnóstico de escoriação neurótica do couro cabeludo?

O diagnóstico da escoriação neurótica pode ser feito por um médico psiquiatra ou dermatologista.
Inclusive, muitos pacientes buscam auxílio médico sem terem a consciência da auto-indução das lesões.
De acordo com estudos, estima-se que até 2% dos pacientes de um consultório dermatológico tenham escoriação neurótica.
Mulheres com idade média entre 30 e 50 anos são o principal grupo de risco.
Além disso, existem outras condições psicológicas e psiquiátricas frequentemente associadas, como:
  • depressão;
  • ansiedade;
  • transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
  • delírio de parasitose;
  • transtorno dismórfico corporal;
  • distúrbios somatoformes, como hipocondria;
  • transtorno de personalidade limítrofe;
  • estressores sociais, como desemprego, solidão, perda financeira e problemas conjugais.
As escoriações também podem ser secundárias a condições médicas como, por exemplo, urticária, uremia, hepatite, xerose, disestesia cutânea e malignidades.
O diagnóstico de escoriação neurótica do couro cabeludo ou em outras partes do corpo requer a presença das lesões típicas, mas também de outros parâmetros.

Critérios diagnósticos

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define cinco critérios diagnósticos:
  1. beliscar, arranhar ou cutucar a pele causando uma lesão visível;
  2. não conseguir interromper a escoriação, mesmo consciente dela;
  3. ter prejuízos em qualquer área da vida em decorrência do transtorno;
  4. o comportamento não ser associado a efeitos de substâncias psicotrópicas;
  5. não ter outro transtorno mental que resulte no comportamento.
Tais fatores são analisados pelo médico responsável para se ter o diagnóstico de escoriação neurótica do couro cabeludo.
Geralmente os pacientes usam os dedos ou as unhas para provocar as lesões. Mas objetos pontiagudos como tesoura, pinça, agulha, alicate ou estilete podem também ser usados.
Os locais preferenciais de lesões são aqueles nos quais os pacientes alcançam sozinhos, como braços, pernas e costas.
Quando as machucados estão no rosto, o transtorno recebe o nome de acne excoriée.
As escoriações também podem se localizar no couro cabeludo.
Em casos graves, aliás, as lesões podem resultar na formação de cicatrizes, com queda de cabelo e alopecia definitiva.

Tratamento para escoriação neurótica do couro cabeludo

A escoriação neurótica deve ser vista como uma condição que vai além da lesão física, visível.
Há todo um substrato psíquico por trás do quadro de automutilação.
Portanto, para ter sucesso, o tratamento precisa ser multidisciplinar, com abordagem dermatológica e psiquiátrica.
O primeiro passo é detectar o problema, o que pode ser feito por qualquer um desses dois profissionais.
Uma vez se confirmando o diagnóstico, o próximo passo é entrar com medicação psiquiátrica.
O uso do remédio certo para depressão, ansiedade ou comportamento compulsivo contribui para o controle na frequência das escoriações.
Caso necessário, o tratamento pode ser complementado com psicoterapia.
As sessões com o psicoterapeuta visam principalmente ajudar o paciente a identificar e controlar os gatilhos da automutilação.
O tratamento dermatológico da escoriação neurótica do couro cabeludo também é essencial. Ele inclui medicamentos de uso tópico ou oral para coceira e para tratar lesões infeccionadas.
Tratamentos complementares podem ser necessários para recuperar as áreas de rarefação capilar secundária ao ato de escoriar.

Escoriação neurótica no couro cabeludo: o que fazer?

A escoriação neurótica é uma condição séria.
Ela demanda acompanhamento médico especializado e multiprofissional para diagnóstico, controle e recuperação do paciente.
Caso você sofra com essa situação e sinta que precisa de ajuda, nos procure.
Nós temos condições de te oferecer o suporte necessário para controlar seu problema.
A Clínica Doppio além de possuir uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície, conta ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.
Faça uma avaliação e obtenha as informações e cuidados para o seu caso.
 

Dr. Nilton de Ávila Reis

CRM: 115852/SP | RQE 32621


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32 Responses

    1. eu tambem nao sei como desenvolvi essa maldita mania é incontrolavel forma varios machucados na cabeça e ficam doloridos e inchados chegou em um ponto que ate perto das pessoas fica dificil se controlar

      1. Olá Mayra

        Não se preocupe. O objetivo do artigo é justamente mostrar que esse problema não é só seu, mas de muitas outras pessoas que nos procuram.
        Portanto, não se sinta mal por conta disso.
        Existe tratamento para essa sua “mania”.
        Para isso, sugiro que procure um médico psiquiatra. Ele pode te ajudar a controlar esse seu hábito.

      2. Eu faço o mesmo a 9 anos não aguento mais , mas não consigo parar.isso me faz mal não sei o que fazer não tenho condições de tratar

        1. Olá, Aliandro

          Procure um posto de saúde para que eles lhe orientem como fazer acompanhamento gratuito pelo SUS, mas não deixe de buscar ajuda, se está te incomodando.

          1. Olá, Ana Júlia

            Acredito que você precisa procurar um médico especialista para te ajudar com seu problema.
            Existem medicações e terapias comportamentais justamente para seu caso.
            Converse com seus pais e peça para eles agendarem um médico psiquiatra para você.
            Com a orientação correta, você vai conseguir para de cutucar seu couro.

      1. Olá, Valdirene

        Existem medicações que ajudam a controlar esse impulso de ansiedade.
        Mas para saber qual é a mais indicada para seu caso, é preciso passar por uma avaliação com um médico psiquiatra.

    2. tenho a mania de coçar a cabeça mesmo sem está coçando e faz mais de 5 anos e não consigo deixar essa mania no lugar está sem cabelo não consigo parar de fazer isso ,o que fazer nessa hora?

      1. Olá, Valnei

        O primeiro passo você já deu, que é reconhecer esse ato e procurar ajuda.
        Precisa saber se você faz isso por ansiedade ou só por hábito.
        Se for ansiedade, existem remédios que ajudam nisso.
        Se for hábito, você pode tentar ocluir ou colocar algum tópico que dificulte você a mexer na área.

  1. Tenho 25 anos e possuo esse hábito desde criança, não faço ideia do por que. Só atualmente fui perceber que é um problema e busquei tratamento, porque sempre pensei que fosse normal e que cada pessoa tinha suas doideiras

  2. Eu tenho mania de ferir a cabeça e arrancar as casquinhas desde adolescente. Tem dias que faço de forma neurótica, não tenho controle nenhum. O único medicamento que me fez parar totalmente com as lesões foi o aripiprazol, porém tive que parar de tomar porque achei que ele estava me atrapalhando a desempenhar outras funções.

  3. Adquiri essa mania a 7 meses, em um período de 15 dias descobri que meu ex esposo tinha hipersexualidade com toda e qualquer mulher e meu pai descobriu que estava com câncer no pulmão. Meu problema além das lesões, após tirar a casquinha, tenho que comer. Tem dias que sinto tanta dor pelo ferimento e vergonha pela situação, que tenho dificuldade de continuar.

    1. Olá, Gabi

      Não precisa ter vergonha, você precisa de ajuda para enfrentar todas essas situações e se restabelecer.
      O primeiro passo você já deu. Sinta-se orgulhosa por isso.
      Agora é procurar uma ajuda médica para conseguir as ferramentas adequadas para seu tratamento.
      Sugiro que primeiro procure um psiquiatra para ver se há necessidade de uso de medicamentos.
      Se puder ajudar em algo relacionado ao couro cabeludo, fico à disposição.

    2. Gabi, pensei que eu era a única a ter esse hábito incontrolável. Atualmente, além das feridas da cabeça, estou com pernas, braços e barriga muito feridos. Faço isso até dormindo. Essa obsessão está totalmente ligada ao transtorno de ansiedade generalizada que tenho. Estou passando por um problema que está me jogando no chão . Faço curativos para evitar abrir as feridas do corpo, mas na cabeça não tem jeito. Mesmo fazendo uso de duloxetina, não vejo melhora alguma. Boa sorte pra nós.

  4. tenho 16 anos e há umas semanas percebi que estava machucando a minha cabeça mais que o normal, fico arrancando casquinhas da minha cabeça até ferir, dói um pouco e eu tenho noção de que não é bom, mas eu simplesmente não consigo controlar e parar, quando menos espero estou mexendo na minha cabeça de novo. minha mãe me briga bastante na esperança de que eu pare de machucar minha cabeça, diz que vai ficar com cheiro de ferida e que os outros irão sentir, mas essas coisas que ela me fala não ajuda em nada pois eu continuo arrancando as casquinhas. não posso me autodiagnosticar com escoriação neurótica do couro cabeludo mas me identifiquei com algumas coisas, contudo irei tentar de tudo para parar com essa mania.

    1. Olá, Camila

      O mais importante você já fez, que foi reconhecer que está com um problema.
      O próximo passo é procurar um profissional para te ajudar a controlar essa sua tendência a machucar sua cabeça.
      Converse com sua mãe para que ela te oriente nesse sentido.
      Se precisar de nosso apoio, entre em contato conosco pelo número (11) 38539175.
      Estamos à disposição para ajudá-la.

  5. Olá…eu tbm estou com esse mal….eu tento desviar a atenção e não fazer ..mas quando dou conta…eu tô com a mão na cabeça…arrancando casquinha…eu gostaria de saber…qual o malefícios que isso causa….pode contrair alguma outra doença…cair cabelo e dá alopecia.. tipo essas coisas!!???

    1. Olá, Katia

      Além de poder infeccionar o local onde você arranca a casquinha, também pode formar cicatriz e você ter alopecia, ou seja, perda definitiva de cabelo naquele local.

  6. Há alguns anos tenho esse problema. Comecei com a ajuda de um psiquiatra e estou tomando medicação há 2 meses, mas ainda não vi diferença nisso. Inclusive, acho que piorou. Vou substituir a medicação pela terceira vez. Estou bem desanimada, pois gostaria de melhorar logo essa situação. Com o que o dermatologista poderia me auxiliar?

    1. Olá, Raphaela

      O dermatologista pode ajudar no diagnóstico e conscientização do paciente, que vejo que você já tem.
      Além disso, o dermatologista pode tratar caso exista alguma patologia de base (espinhas, dermatites) que motive a manipulação do couro.

  7. tenho essa mania de cutucar o couro cabeludo. ha muitos anos atrás eu arrancava fios de cabelo. depois parei e comecei a coçar a cabeca ate fazer feridas e arrancar as casquinhas. nao consigo mais parar e nem passar tinta nos cabelos porque dói.

  8. Há tratamento para uma cicatriz de escoriação na cabeça? Não tive perda permanente de cabelo, porém, no local onde fiz o ferimento até hoje, anos depois de cicatrizar, ainda sinto às vezes uma dor incomoda e intensa, que aparece muitas vezes do nada, localizada no local da cicatriz. Gostaria de saber se há algum medicamento, ou tratamento que pudesse diminuir o incômodo.

    1. Olá, Pamela

      A indicação de medicamentos e outras formas de tratamento dependem de uma prévia avaliação médica completa, com análise do couro cabeludo.
      Portanto, sugiro que agende uma consulta para que possamos discutir possibilidades terapêuticas.
      Caso queira mais informações, entre em contato conosco pelo número (11) 38539175.
      Estamos à disposição para ajudá-la.

  9. Nossa, eu mesma diagnostiquei isso como sendo um transtorno porque tenho Ansiedade, Transtorno do Pânico e estou saindo de um episódio grave de depressão. Hoje cocei minha cabeça por muito tempo, e fiquei tateando o couro cabeludo procurando por casquinhas pra arrancar por que a sensação é muuito boa. O dia amanheceu e eu fiquei fazendo isso a madrugada toda. Percebi que tinha ferido muito, e tirei uma foto, tinha bastante sangue no local. Eu pensei: como eu pude me machucar desse jeito e sentir alívio nisso?? Isso não é normal! Fiquei olhando pra foto um tempo e me veio alguns flash’s de fatores estressores atuais e associei a isso.
    Vou relatar ao meu médico isso. Gostei do artigo, entrei aqui pra pesquisar sobre o assunto.

    1. Olá, Valéria

      Obrigado pelo comentário e pelo relato.
      Que bom que foi útil para você identificar o problema e te motivar a buscar ajuda.

  10. Dr Nilton, parabéns pela sua empatia. Quando estamos com problemas é difícil encontrar uma pessoa que se preocupe e respeite o nosso caso.

    1. Olá, Ivonilda

      A compreensão dos diversos espectros da patologia nem sempre é tão fácil para quem não lida com o ser humano em sua essência. Mas nós médicos precisamos ficar atentos a esse cuidado para acolhermos e tratarmos nossos pacientes.
      Espero que você fique bem e consiga encontrar o que procura.

  11. Boa noite! Eu tenho neuropatia periférica e já faz anos que cutuco meu coro cabeludo . Será que essa neuropatia está ligado a essa mania . Também tenho pisoriase na cabeça fico desesperada e estou proucurando ajuda.

    1. Olá, Tânia

      O ato de manipular o couro cabeludo não costuma ser uma manifestação de neuropatia periférica, mas sim um sintoma de ansiedade.
      Vale a pena você consultar um psiquiatra para te ajudar nessa questão.

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