Microbiota do couro cabeludo e queda de cabelo: qual é a relação?

A constituição da microbiota do couro cabeludo interfere em vários aspectos da saúde do cabelo.

Por isso, há um aumento do interesse em saber mais sobre o assunto.

O que é microbiota do couro cabeludo?

O termo microbioma se refere ao conjunto de microorganismos existentes em um certo local.

Assim, a microbiota do couro cabeludo é formada por bactérias, fungos, vírus e ácaros que habitam a pele da cabeça.

Dentre as principais bactérias do couro cabeludo estão o Staphylococcus, Corynebacterium, Pseudomonas e Cutibacterium acnes, antigo Propionibacterium acnes.  

Já os fungos mais frequentes do microbioma capilar são a Malassezia globosa e Malassezia restricta

Por sua vez, o Demodex foliculurum é o artrópode mais comum do couro.

Embora esses sejam os microorganismos mais frequentes e existam alguns padrões de distribuição semelhantes, cada indivíduo tem um microbioma único.

Além disso, a microbiota do couro cabeludo é dinâmica, ou seja, está em constante mudança.

Vários fatores, incluindo idade, gênero, etnia, remédios, clima e até produtos de cabelo, por exemplo, podem modificar esse ambiente.

Para que serve o microbioma do couro cabeludo?

Quando se pensa em bactérias, fungos e vírus logo vem à mente sua associação com infecções e problemas de saúde.

Realmente esses são agentes de dermatoses como impetigo, ectima, furúnculo, micose, cobreiro e molusco contagioso, dentre outras.

Entretanto, nem sempre é assim.

A microbiota do couro cabeludo também desempenha um papel crucial na saúde capilar.

Sua principal função é justamente proteger a pele da ação de agentes patógenos.

Ao manter um ambiente no qual existe um equilíbrio entre as populações de microorganismos, o microbioma forma uma barreira biológica.

Desse modo, ele dificulta o crescimento de parasitas e agentes mais nocivos ao corpo.

De maneira simples, é como se a microbiota fosse um exército do bem com soldados prontos para combater inimigos.

Eixo pele-intestino

Além da própria microbiota do couro cabeludo, outra frente de estudo visa estabelecer a relação entre flora intestinal e queda de cabelo.

Há alguns estudos sugerindo uma possível ligação entre o intestino e a alopecia areata, por exemplo.

Um desses trabalhos, inclusive, relata melhora da alopecia após transplante de microbiota fecal.

Por sua vez, o o desequilíbrio da flora, pelo crescimento excessivo de Lactobacillus murins, foi associado à alopecia.

Disbiose: desequilíbrio do microbiota do couro cabeludo

As populações de microorganismos da pele coexistem de forma harmônica, ou seja, em simbiose.

Entretanto, algumas situações podem levar a um desequilíbrio dessa condição, causando um quadro de disbiose.

Dessa forma, a disbiose é a ruptura da relação harmoniosa existente entre as populações de um microbioma.

A disbiose do couro cabeludo pode levar a vários problemas como caspa, foliculite e até mesmo queda de cabelo.

 Papel da disbiose na seborreia

A existência de fungos é normal na pele, seja do corpo ou do couro cabeludo.

Entretanto, há uma variação da quantidade de cada tipo de fungo dependendo da região. Assim, em cada local há uma população dominante.

Além disso, pesquisas científicas também apontam mudanças de padrão em alguns quadros patológicos.

Um deles é a seborreia.

De acordo com um estudo de 2018, por exemplo, pessoas saudáveis apresentam uma maior quantidade de Malassezia globosa no couro.

Por outro lado, na dermatite seborreica houve uma maior proporção de M. restricta sobre a M. globosa.

Além disso, nesses pacientes também se observou um aumento da população de outras espécies de fungos Malassezia ainda sem identificação.

Já em relação às bactérias do couro cabeludo, houve associação entre Staphylococcus epidermidis, caspa e coceira.

Embora haja algumas pequenas discordâncias, os resultados dessa pesquisa são semelhantes a de outros trabalhos sobre o tema.

Foliculite e microbioma cutâneo

Os micróbios são habitantes da pele.

Mas embora façam parte da barreira biológica cutânea, eles também podem causar doenças caso se interiorizem.

Desse modo, é fundamental manter a pele íntegra, ou seja, sem cortes ou machucados.

Entretanto, ao coçar, depilar ou raspar o pelo, muitas vezes se abrem pequenas portas de entradas para a invasão microbiana.

Por isso, é muito comum se ter foliculite de barba ou após sessões de depilação, seja com cera ou laser.

Esse também é um dos motivos principais de se observar muitos casos de foliculite no couro cabeludo, principalmente na nuca.

Na maior parte dos casos, as espinhas que se formam são verdadeiras colônias de bactérias.

Ao cutucar ou coçar essas lesões, a pessoa infecta as unhas com as bactérias, transportando-as e inoculando-as em outros locais.

Dessa forma, as lesões vão se espalhando.

Como a nuca e as laterais da cabeça são os locais de maior manipulação, eles acabam sendo os mais afetados.

Além disso, a dermatite seborreica colabora para o quadro, pois ela costuma ser mais intensa nessas regiões, justificando a coçadura.

Por fim, essas também são as áreas nas quais se costuma raspar mais o cabelo, facilitando a invasão.

Microbiota do couro cabeludo e dermatite atópica

O microbioma vive em harmonia com a pele íntegra, mantendo o ambiente saudável.

Em partes, essa paz se deve a ação de um agente apaziguador, o sebo.

Os óleos produzidos pelas glândulas sebáceas isolam a “briga” entre o microbioma e a pele.

Portanto, é importante se preservar a camada de gordura cutânea, pois ela forma uma barreira para a invasão microbiana.

Em outras palavras, ela delimita o espaço até onde os micróbios podem ir.

Para isso, essa fina faixa de sebo possui substâncias que inibem o crescimento tanto de fungos como de bactérias.

Alterações da barreira natural lipídica são a causa, por exemplo, de maior irritação e infecção da pele em pacientes atópicos.

Nesses pacientes, a falta de um escudo oleoso eficiente expõe mais a pele à ação dos microorganismos do meio externo.

Dessa forma, acaba sobrando só para a pele a responsabilidade em conter tentativas de invasão microbiana.

Aliás, esse é um dos motivos de pacientes com dermatite atópica estarem sempre com a pele inflamada.

Mais comum em regiões de dobras, as lesões do eczema atópico também podem atingir o couro cabeludo.

Assim como no corpo, no couro as lesões também decorrem das falhas na relação entre microbioma, sebo e pele.

Queda de cabelo por disbiose 

Um outra frente de pesquisa sobre microbiota do couro cabeludo vem estudando sua importância na queda de cabelo e calvície.

A base dessa relação é o possível papel do microorganismos na inflamação ao redor do folículo capilar.

Atualmente se admite que a inflamação perifolicular altere a dinâmica do fio, facilitando a queda e progressão da calvície. 

Esse seria, aliás, um dos mecanismos responsáveis pela contribuição da dermatite seborreica no eflúvio telógeno, causa frequente de queda.

Além do eflúvio capilar, a inflamação do couro também pode se associar a outras condições que levam à queda.

É o caso, por exemplo, da alopecia areata e da calvície genética.

Microbiota do couro cabeludo na alopecia 

Graças ao seu potencial em provocar quadros inflamatórios crônicos, a microbiota do couro cabeludo passou a receber mais atenção da comunidade médica. 

Alguns estudos científicos, inclusive, já abordam o tema.

Um desses trabalhos é um artigo de 2022 da revista Microorganisms.

No estudo, envolvendo 33 voluntários com alopecia areata e 12 sem a condição, houve diferenças na microbiota do couro cabeludo.

Nos pacientes com alopecia areata severa encontrou-se mais bactérias do gênero Corynebacterium e menos Staphylococcus caprae do que no restante.

Já outro trabalho, desta vez de 2019, avaliou a microbiota do couro cabeludo em pacientes com alopecia androgenética.

Nessa pesquisa, detectou-se uma maior concentração de Cutibacterium (Propionibacterium) acnes nos folículos com miniaturização em relação aos normais.

Desse modo, uma das sugestões dos pesquisadores seria a de que a inflamação provocada pela bactéria poderia contribuir na calvície.

Inovações futuras e oportunidades de pesquisa

Manter a microbiota do couro cabeludo saudável é essencial para a saúde geral do couro cabeludo e do cabelo.

Os avanços no campo da microbiologia abrem caminho para novas abordagens e tratamentos capilares. 

Com o avanço do conhecimento científico, por exemplo, podemos esperar o desenvolvimento de produtos capilares mais integrativos.

Esses talvez incluam xampus e condicionadores com ingredientes que considerem a microbiota do couro cabeludo.

Dessa forma, eles talvez possibilitem um melhor controle da disbiose e de suas possíveis consequências.

Problemas no couro cabeludo: o que fazer?

O couro cabeludo é a base onde se fixam os folículos capilares responsáveis pela produção dos fios de cabelo.

Desse modo, qualquer agravo ao couro pode deixar sequelas na aparência e vitalidade dos fios.

Por isso, é sempre bom cuidar do couro assim como se cuida de um jardim.

Se precisa de mais informações sobre o assunto, faça-nos uma visita!

A Clínica Doppio  possuir uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície. Além disso, contamos ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.

Faça uma avaliação e obtenha as informações e cuidados para o seu caso.

Dr. Nilton de Ávila Reis

CRM: 115852/SP | RQE 32621


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2 Responses

  1. Olá, trabalho como cabeleireira há 15 anos e atualmente tenho me deparado com muita queda de cabelo e muitas outras patologias e recentemente fiz um curso de terapia capilar visando buscar solução para esses problemas. E pesquisando encontrei este estudo, gostei muito e pretendo me especializar na área.

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