Usar creme hidratante corporal no cabelo é uma boa?

Na internet e redes sociais se encontram muitas sugestões de cuidados com os fios. Uma delas é aplicar hidratante corporal no cabelo.

Entretanto, antes de aderir a essa moda, é preciso ter mais informações sobre o assunto. 

Para que serve a hidratação capilar?

O fio de cabelo é um anexo da pele constantemente sujeito a mudanças em sua conformação. 

O movimento do cabelo possibilita a ele adquirir novos formatos e orientações.

Para ter essa plasticidade, no entanto, o fio precisa ser maleável.

Mas, assim como uma borracha quando resseca, a haste capilar desidratada também fica mais rígida e propensa à quebra.

Além disso, a desidratação deixa a superfície do fio mais sujeita a danos, tornando-o mais áspero.

Por sua vez, ao ficar menos sedoso e sofrer fraturas, o fio passa a embaraçar mais e formar pontas duplas.

Portanto, a hidratação capilar é importante para se ter fios mais fortes, sedosos, resistentes e saudáveis.

Como ocorre a hidratação do cabelo?

Frente a todos os benefícios de se ter fios hidratados, algumas pessoas começaram a testar o hidratante corporal no cabelo.

Mas para saber se essa é uma boa opção, vale a pena entender mais sobre a hidratação capilar. 

A haste capilar é uma estrutura inerte, ou seja, sem vida.

As células dessa parte do fio não possuem núcleo ou organelas, sendo totalmente preenchidas por queratina.

Desse modo, não existe troca de água entre o corpo e a haste capilar.

Portanto, beber água não ajuda a ter cabelos mais hidratados.

A hidratação do cabelo ocorre de uma forma diferente do restante do corpo.

A água que hidrata o fio vem de fora para dentro. Sendo assim, ela depende da umidade local.

Endocutícula e complexo de membrana celular

Uma vez dentro do fio, a água permeia e entra dentro das células, inchando-as.

Mas tão importante quanto permitir a entrada da água é não deixá-la sair, mantendo o fio sempre hidratado.

Para isso, o fio conta com 2 estruturas: a endocutícula e o complexo da membrana celular (CMC).

A endocutícula é uma barreira lipídica composta por óleos produzidos pelas glândulas sebáceas do couro. Dentre esses lípídeos, o principal componente é o ácido 18-metil eicosanóico (18-MEA).

Essa camada de sebo recobre o fio, formando um envelope ao redor das escamas da superfície da haste capilar.

Como água e óleo não se misturam, a presença dessa película isolante reduz as perdas hídricas do fio para o ambiente.

Além da barreira lipídica, outro componente desse sistema de isolamento hídrico do fio é o complexo da membrana celular.

O CMC é composto por um material adesivo que conecta as membranas das células capilares.

Dessa maneira, ele é responsável pela adesão das células das escamas da cutícula. Em outras palavras, o CMC é o cimento que mantém as escamas presas ao fio.

Por sua vez, danos à endocutícula ou ao CMC levam à perda de escamas e desestruturação do isolamento hídrico do fio.

Por isso, procedimentos químicos, atrito excessivo, lavagens e secagens incorretas dos fios ressecam e enfraquecem o cabelo. 

Portanto, para se ter cabelos saudáveis é crucial manter uma boa hidratação capilar.

Por que aplicar hidratante corporal no cabelo pode fazer mal?

Não é à toa que existem tantas fórmulas caseiras e produtos no mercado para hidratar os fios.

A hidratação é um passo sine qua non para se ter cabelos bonitos e sedosos.

Sem água não há vida, nem no cabelo.

Por conta disso, há múltiplas tentativas de se adaptar produtos e substâncias para manter a hidratação dos fios.

Uma delas é usar hidratante corporal no cabelo.

Mas será que é bom fazer isso?

Antes de responder essa questão, é preciso esclarecer alguns pontos sobre os hidratantes, sejam eles de corpo ou rosto.

Diferenças entre hidratantes capilares e corporais

Creme para cabelo é um produto e hidratante corporal é outro.

Embora o objetivo de ambos sejam manter o teor de água, eles têm composições e propriedades químicas diferentes.

Composição

Existem diversos compostos comuns entre cosméticos para corpo e cabelo. Por isso, algumas pessoas tendem a achar válido usar hidratante corporal no cabelo.

Entretanto, os hidratantes corporais contêm alguns ingredientes prejudiciais à saúde capilar. 

Seja pela concentração, qualidade ou pela própria composição, esses produtos definitivamente não fazem bem ao fio.

Dentre as substâncias presentes no hidratante facial ou corporal prejudiciais aos cabelos, temos:

• óleo mineral: ajuda na hidratação da pele, mas no cabelo leva a uma oleosidade excessiva dos fios;
• fragrâncias: alguns perfumes comuns nos cremes corporais devem ser evitados em produtos capilares por irritarem o couro cabeludo;
• lanolina: frequente em formulações de hidratantes corporais, no cabelo ela tende a se acumular, deixando o cabelo pegajoso e com aspecto sujo;
• parabenos (DMDM ​​Hydantoin, BHA): apesar de também compor algumas formulações capilares, o ideal é evitar essas substâncias;
• silicones não solúveis em água: esse tipo de silicone se acumula na cutícula, dificultando a entrada de água no fio.

Seja pela maior quantidade de óleos minerais, presença de lanolina ou de silicones insolúveis, não é bom usar hidratante corporal no cabelo.

O acúmulo de óleo decorrente desses componentes provoca hidrofobia capilar, ou seja, maior repulsão do fio à água.

O resultado final é uma dificuldade do fio em absorver água do ambiente, gerando ressecamento e maior tendência à quebra.

Portanto, a composição dos produtos é uma das razões para não se usar hidratante corporal no cabelo.

Potencial hidrogeniônico

Diversas características químicas interferem no processo de hidratação do cabelo. Um deles, por exemplo, é o ph.

O ph é uma escala de números entre 0 e 14 correspondente ao grau de acidez ou alcalinidade da solução.

Assim, quanto mais próximo do zero mais ácido é o produto e quanto mais alto, mais alcalino. O ph 7 é neutro.

De acordo com um estudo brasileiro, 63% hidratantes corporais avaliados têm ph acima de 5,5.

Porém, o ph do fio de cabelo é de 3,67.

Logo, o ph do hidratante é maior do que o do fio de cabelo.

Phs mais altos tendem a abrir a cutícula e aumentar a perda hídrica.

Por outro lado, phs mais baixos, como o do vinagre de maçã, selam as cutículas, deixando o fio mais sedoso.

Condicionadores têm ph entre 3,5 e 4,5.

Além disso, produtos com ph acima de 5,5 prejudicam a barreira cutânea, favorecendo a inflamação do couro. O resultado pode ser a piora de sintomas como coceira, caspa, dor e queda de cabelo.

Por conseguinte, graças ao ph, não é interessante usar creme hidratante corporal no cabelo.

Cosmética do produto

Um outro fator a se considerar sobre o uso de hidratante corporal no cabelo é a textura do produto.

Existem diferentes veículos para hidratantes dermatológicos como, por exemplo, creme, loção, emulsão, gel-creme e serum.

Embora até compartilhem apresentações semelhantes, hidratantes de corpo têm uma consistência própria para espalhar na pele e não no fio.

Dessa forma, usar hidratante corporal no cabelo pode deixá-lo com aspecto pegajoso, oleoso e pesado.

Hidratante corporal no cabelo: riscos e complicações

Os problemas de usar o hidratante corporal no cabelo geralmente decorrem de seu uso por períodos mais longos.

Assim, eles não costumam aparecer logo na primeira aplicação, mas tendem a surgir com o passar do tempo.

Algumas das desvantagens de se usar hidratante corporal no cabelo serão descritas a seguir.

Hidrofobia capilar

Os hidratantes corporais são mais densos.

Desse modo, eles tendem a obstruir a cutícula capilar, prejudicando a troca de água no fio.

O resultado é uma maior repulsão do cabelo à água, ou seja, uma hidrofobia capilar.

Ressecamento dos fios

Por não ser formulado para esse fim, o creme hidratante corporal no cabelo é mais difícil de ser removido.

O resultado é o acúmulo progressivo do produto nos fios.

Todavia, ao se acumular na superfície do fio formando uma capa isolante, o creme hidratante corporal resseca o cabelo.

Isso porque esse acúmulo de produto dificulta a entrada de água do fio.

Dessa maneira, por ter mais dificuldade de absorver a água, o fio passa a ficar paradoxalmente cada vez mais seco.

Além disso, o ph do hidratante corporal tende a abrir as cutículas, o que também colabora para o seu ressecamento.

Fragilidade capilar e quebra dos fios

Além de tornar os fios mais secos, o uso do hidratante corporal no cabelo deixa a haste capilar mais rígida.

Por sua vez, o ressecamento e rigidez dos fios tornam o cabelo menos resistentes e fracos.

A consequência é o aparecimento de fraturas, pontas duplas e quebra do cabelo.

Oleosidade excessiva

Em geral, hidratantes faciais e corporais são mais viscosos e pesados do que os cremes para cabelo.

A maior quantidade de compostos oleosos da fórmula desses hidratantes acaba deixando o cabelo e couro cabeludo mais oleosos.

Além do aspecto pesado e aparência de cabelo sujo, a oleosidade excessiva favorece o agravamento de dermatites no couro.

Seborreia e caspa

Para pessoas com tendência a desenvolver dermatite seborreica, usar hidratante corporal no cabelo é ainda mais danoso.

O acúmulo de resíduos do creme corporal próximo ao couro mantém o local úmido por mais tempo.

Por conseguinte, a umidade do couro favorece a proliferação de fungos com piora da inflamação da pele.

Por isso, usar hidratante corporal no cabelo pode aumentar a caspa, coceira, sensibilidade e dor decorrentes da seborreia.

Queda excessiva de cabelo

Por fim, talvez um dos piores efeitos indesejados de se usar o hidratante corporal no cabelo seja a queda.

No caso, ela ocorre por uma aceleração do ciclo capilar, com fios caindo antes da hora.

O processo, conhecido como eflúvio telógeno, tem como um dos fatores desencadeantes a dermatite seborreica.

A inflamação do couro pela seborreia induz fios em crescimento a passarem precocemente para fase de repouso, aumentando a queda.

Desse modo, usar hidratante corporal no cabelo pode gerar inflamação no couro e queda capilar.

Hidratante capilar no cabelo vale a pena?

A moda do 2 em 1 nem sempre é uma boa em se tratando de produtos para cuidados pessoais.

A principal razão pela qual usar hidratante corporal no cabelo não é legal se deve aos componentes da sua fórmula.

Os produtos para corpo têm substâncias e concentrações de ativos diferentes dos cosméticos capilares.

Isso faz com que suas propriedades físicas, como a viscosidade, e químicas, como o ph, sejam diferentes.

Por sua vez, essas características do creme de corpo levam à maior rigidez, opacidade, ressecamento, fragilidade e quebra dos fios.

Além disso, a oleosidade e umidade provenientes do acúmulo do hidratante no couro favorecem a proliferação fúngica, seborreia e queda de cabelo.

Sendo assim, conclui-se que, por possuírem estruturas diferentes, não é bom usar hidratante corporal no cabelo. 

Como escolher o produto capilar ideal?

Às vezes não é uma tarefa simples escolher produtos para cuidados com os cabelos.

A primeira dica então é não complicar, ou seja, não inventar.

As indústrias farmacêuticas passam anos estudando e desenvolvendo ativos e fórmulas para hidratantes capilares.

Há considerável diferença mesmo entre produtos como condicionadores, máscaras, leave-in, óleos reparadores de pontas, creme para cachos, rinse ou sem enxagüe.

Por exemplo, uma pessoa com cabelo fino e oleoso pode enfrentar problemas com uma máscara de hidratação mais pesada e viscosa.

Já aqueles com cabelos crespos e secos se beneficiam dessa hidratação adicional.

Portanto, sempre é preciso avaliar individualmente se  o produto atende às necessidades pessoais, considerando as características do seu fio.

Para isso, pode ser preciso testar diferentes formulações até encontrar uma que se adeque mais às expectativas.

A vantagem de escolher produtos capilares mais compatíveis às demandas do fio é poder ter cabelos mais saudáveis e bonitos.

Por essa razão, é preciso ponderar bem a escolha dos dermocosméticos.

É preferível optar por poucos produtos, mas adequados as suas necessidades e, preferencialmente, recomendados por um profissional da área capilar.

Já no caso de cabelos finos e ralos, com caspa, seborreia, queda ou quebra dos fios, é fundamental buscar auxílio médico.

A Clínica Doppio  possuir uma estrutura apropriada para avaliação e tratamento de queda de cabelos e calvície. Além disso, contamos ainda com um médico especialista em cabelos e profissionais preparados para ajudar com seu problema.

Faça uma avaliação e obtenha as informações e cuidados para o seu caso.